Padre João Medeiros Filho
Já no início da Idade Média, durante o mês de maio, a Igreja começou a venerar Nossa Senhora e passou a homenagear Aquela que é estrela de nossas noites e travessias. E por que a Igreja dedicou à Virgem Mãe de Deus o quinto mês do ano? A Ladainha de Nossa Senhora contém várias invocações que ajudam a compreender esta devoção. Ali invocamos a Mãe de Cristo com alguns títulos importantes: Rosa Mística e Estrela Matutina. A estrela da manhã é o sol, o dia, a aurora. Do Céu, Maria é a luz que brilha e ilumina nossos caminhos.
Nas horas do Ofício Divino, diversas vezes saudamos Maria como Aurora de nossas vidas. No hemisfério norte, maio situa-se em plena primavera, estação das flores, da beleza e da graça. No entanto, vale conhecer as origens desse mês para se compreender melhor a simbologia religiosa. A incursão pela mitologia ajudar-nos-á a reconhecer outras razões da consagração do mês de maio a Nossa Senhora.
Segundo alguns pesquisadores, o calendário romano reformado por Júlio César em 45 A.C. (modificado posteriormente pelo Papa Gregório XIII, daí o nome de calendário gregoriano), dedicava o quinto mês do ano ao deus Apolo (irmão gêmeo de Ártemis), o qual recebeu de Hipérion o sol, a lua e a aurora. São famosos os versos de Byron que lhe são dedicados: deus da vida, da luz e da poesia, o sol em forma humana apresentado. A lenda conta ainda que Apolo matou uma grande serpente, chamada Píton, que atemorizava o povo. Consoante outros estudiosos, o mês de maio era dedicado à deusa Maia, mãe de Hermes, da qual se originaria a palavra maio. De acordo com relatos mitológicos, Maia era a deusa dos campos e das flores. A Igreja, desde as suas origens, em sua sabedoria milenar, parte de símbolos e da cultura dos povos para revelar sua mensagem.
Já o apóstolo Paulo, no Areópago de Atenas, referindo-se ao altar consagrado Ao deus desconhecido, assim se expressou: aquele a quem venerais sem conhecer, é esse que vos anuncio (At 17, 23). Maria é a rosa por excelência, a flor mais bela e mais pura. É a nova Eva, vencedora do pecado e do demônio simbolizados pela serpente. Convém lembrar que a iconografia católica representa a Virgem Maria (Nossa Senhora da Conceição) pisando a cabeça da serpente. Foi Ela quem gerou a luz, o dia, o sol da justiça, que é Cristo. Desta forma, o contexto e o pretexto lendário serviram para revelar virtudes de Nossa Senhora. Atribuiu-se, assim, novo sentido às comemorações de maio, que no catolicismo passa a ser dedicado à Mãe de Deus.
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